quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

São Paulo (SP): Longas jornadas fazem japonesas desistirem do topo

Em 1986, enquanto o mundo assistia maravilhado à economia do Japão decolar, o governo implementou uma lei de emprego que oferecia, pela primeira vez, oportunidades iguais no que diz respeito aos gêneros sexuais. Isso encorajou Machiko Osawa, uma professora da Japan Women´s University e especialista em economia trabalhista, a voltar dos Estados Unidos com seu marido americano, na esperança de que iria ver as mulheres conseguindo mais oportunidades de carreira em seu país natal. Um quarto de século depois, a maré econômica mudou, mas as mulheres em posições elevadas na hierarquia corporativa ainda são poucas. Números do governo mostram que apenas 6,2% das mulheres que trabalham no setor privado ocupam funções como gerentes ou superiores. Embora as mulheres respondam por metade dos universitários que se formam no Japão, dentro do governo central representam apenas 2,2% dos cargos no nível de diretor ou acima, segundo dados do departamento de estatísticas do governo. "Eu tinha esperanças", diz a professora Osawa. "Mas pouca coisa mudou. A sociedade como um todo ainda é organizada com base nos homens sendo os provedores e as mulheres tomando conta da família. Não é só a regulamentação, mas também a ideologia que desencoraja as mulheres". O gabinete do governo tem uma longa lista de metas para melhorar a igualdade. Os objetivos principais incluem ter mulheres ocupando pelo menos 10% das posições de chefia de seções no setor privado e 5% das posições no âmbito administrativo no governo central até 2015. Outras iniciativas preveem aumento de creches e melhoria no equilíbrio entre a vida no trabalho e a particular, tanto para homens quanto para mulheres. A falta de oportunidades iguais não está prejudicando apenas a elas. O uso pleno da qualificada mão de obra feminina poderia estimular o crescimento econômico do Japão em 15%, segundo dados do banco de investimentos Goldman Sachs. Isso ajudaria um sistema previdenciário em declínio, na medida em que a população encolhe. As longas e inflexíveis horas de trabalho de um emprego de período integral são incompatíveis com o desafio de equilibrar trabalho e vida em família - e algo bastante desmotivador para as mulheres que querem voltar a subir na carreira. Um estudo do Center for Work-Life Policy mostra que, embora 77% das mulheres queiram voltar a trabalhar, apenas 43% fazem isso, e 49% desistem por causa das perspectivas de carreira reduzidas. Suzanne Price, que comanda uma consultoria especializada em treinamento de líderes, engajamento de funcionários e diversidade, afirma que a confiança das profissionais é minada após elas passarem anos sendo negligenciadas. "Muitas japonesas não querem assumir uma posição de comando". Além disso, as que têm habilidades com idiomas preferem as multinacionais. Isso dá a elas a possibilidade de cuidar dos filhos, trabalhando em casa pela manhã quando necessário. A criação dos filhos é um problema enorme. Em Tóquio, as creches estatais estão sempre cheias, as listas de espera são longas e os períodos de atendimento são fixos. Regras de licenciamento rígidas significam que há um número limitado de estabelecimentos particulares. Babás e atendimento privado também não são a norma no Japão. Yoshimi Ogawa, presidente e uma das fundadoras da Index, que desenvolve conteúdo de telefonia móvel, diz que o relógio biológico da mulher pode provocar problemas na carreira, especialmente em razão da falta de apoio externo para cuidar das crianças. "Os homens têm muita liberdade nesse aspecto", diz Ogawa, que não é mãe. "As profissionais na faixa intermediária dos 30 anos ficam preocupadas. Ter mais cinco anos para decidir se você quer ou não ter filhos seria um alívio para elas." Os dois grandes problemas que precisam ser resolvidos são as longas, e não necessariamente produtivas, horas de trabalho e o recorde de queda na taxa de fertilidade das japonesas, afirma a professora Osawa. Isso depende, porém, da reação das companhias e do governo - além da crença de que promover um maior acesso delas a posições de comando não é algo fútil. "O sistema inteiro precisa mudar", diz. (Tradução de Mario Zamarian) Informações do jornal Valor

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