quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

SETE BILHÕES DE QUÊ?

fonte: http://www.jnoticias.com.br/especial/4751-sete-bilhoes-de-que Segundo estimativa oficial de ONU (Organização das Nações Unidas) a humanidade atingiu, na última semana, a marca de sete bilhões de habitantes vivendo sobre a face da Terra. Para entender melhor qual o significado desse número expressivo na opinião de especialistas em diversas áreas do conhecimento, o JNotícias reuniu depoimentos que comentam desde as estatísticas brasileiras até o questionamento ao "holocausto oculto", ou seja, a morte de seres humanos provocada pela falta de recursos que garantam sua sobrevivência Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Estes e outros questionamentos, feitos por homens de todas as cores, raças e credos ao longo da existência humana ganharam força diante de um prognóstico divulgado pela UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas) com base na estimativa da ONU (Organização das Nações Unidas) de que teríamos ultrapassado o contingente de sete bilhões de habitantes. O bebê que simbolicamente representou a marca nasceu em Manila, nas Filipinas. Segundo o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, a menina Danica Mae Camacho nasce num mundo marcado por "terríveis contradições". "Há muita comida, mas um bilhão de pessoas passam fome. Poucos levam um estilo de vida generoso e muitos outros vivem na pobreza. Houve enormes avanços na medicina, enquanto mães falecem cotidianamente no parto e crianças morrem todos os dias por beber água poluída. Bilhões são gastos em armas para matar pessoas ao invés de mantê-las salvas. Em que tipo de mundo o bebê número 7 bilhões nasceu?", declarou na segunda-feira, 31 de outubro, em pronunciamento oficial. Por trás dos números Segundo o professor de filosofia Ronaldo Arnoni, é preciso remeter-se às tradições de antigas civiliações para se aprofundar na simbologia que existe por trás da mobilização em torno da multiplicação da humanidade. "A numerologia é tão antiga quanto à própria invenção dos números. E os números foram a primeira tentativa dos povos antigos de dizer e entender a realidade e o mundo em que viviam. E foram além. A numerologia passou a dizer o futuro das pessoas e posteriormente a definir pela somatória das letras o número de ‘sorte’ ou mesmo azar contido nos nomes próprios", conceitua. Sobre a mística por trás da estimativa da ONU, ele acrescenta: "Sabemos que o número 7 exerceu e exerce grande fascínio na história da humanidade. O número 7 representa a perfeição divina e a oposição ao 6 (somado em três sequências), que denomina o número da Besta no livro do Apocalipse na Bíblia. O número 7 também representa o ser humano com a prerrogativa do bem, antagonizando com o número 6 que representa o mal. O mundo chegou aos 7 bilhões de habitantes. Com certeza, muita especulação será criada em torno desse número", afirma. "Viver não é somente existir" De acordo com o "Relatório sobre a Situação da População Mundial 2011", produzido pela Divisão de Informações e Relações Externas do UNFPA, o Fundo de População das Nações Unidas, "o rápido crescimento da população mundial é fenômeno recente. Há cerca de 2.000 anos, ela era de cerca de 300 milhões. Foram necessários mais de 1.600 anos para que ela duplicasse para 600 milhões. O fenômeno teve início em 1950, com reduções de mortalidade nas regiões menos desenvolvidas, o que resultou numa população estimada em 6,1 bilhões no ano de 2000, quase duas vezes e meia a população de 1950". Para Arnoni, é importante ressaltar que, que não fosse os conflitos, os cataclismas naturais, há muito teríamos atingido os sete bilhões de habitantes. "Assusta quando pensamos em como alimentar tanta gente, e se os recursos naturais serão suficientes para prosseguirmos nessa toada procriatória", pontua. Ele traça um panorama acerca da situação delicada que muitos países, inclusive o Brasil, vivem social e economicamente e prevê um futuro nebuloso caso o ritmo de esgotamento de recussos naturais e de concentração de renda seja mantido ou ampliado. "Claro que não serão todos alimentados (1/3 hoje da população mundial passa fome) e nem teremos água para todos os habitantes. Uma grande parte não terá acesso à educação, ao mercado de trabalho formal, à saúde. Infelizmente, sob a ótica das relações sociais e econômicas, isso será apenas um aumento do que denominamos ‘holocausto oculto’ ou seja, o genocídio em massa por falta de recursos". O professor afirma que é preciso refletir e agir para além das comemorações, tendo em vista o benefício comunitário. "Teremos que pensar em quais ações sociais nos empreenderemos para fazer a dignidade da vida acontecer. Porque viver não é somente existir. As necessidades humanas devem ser saciadas para todos os habitantes e não somente para uma parcela", conclui. As estatísticas regionais A contagem oficial do número de habitantes no Brasil e os indicadores sociais que refletem o comportamento demográfico da população foram atualizados em 2010 por meio do Censo Demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo o chefe do Instituto em Barueri, Romessi Ferraz dos Santos, não é possível determinar um padrão para o crescimento populacional em todo globo. Isso porque, segundo o especialista, "no velho mundo com países como portugal e outros, a população já vem diminuindo ao longo dos tempos. São países com uma população envelhecida o que onera muitos encargos ao governo, pois existem muitos idosos para poucos que estejam em idade para trabalhar. Mas existem países em pleno desenvolvimento em que a população vem crescendo de forma incontrolável, o que faz com seus governantes tomem medidas para bloquear o crescimento. Mas tudo isso varia de região para região, pois trata-se muito de cultura", explica. Analisando o panorama de Barueri, ele ressalta que o município segue as tendências mundiais de aumento populacional, porém também amparado pelo desenvolvimento econômico e social. "É umas das poucas cidades da região que mostrou crescimento populacional em 10 anos, tudo isso devido a qualidade de vida que atrai outros moradores de outras regiões e investimentos públicos em moradias", opina. Mas ele afirma que, devido a ocupação acelerada, isso não significa que os olhos da administração pública não devam se voltar para a tendência da saturação do espaço. "Se pensarmos no futuro, vemos que Barueri já está com a maior parte de seu território ocupado, tendo uma tendência de que, daqui pra frente, teremos um crescimento vertical". Santos afirma que, baseado no crescimento econômico que estimula um nível maior autonomia, apesar do aumento de habitantes, o número de ocupantes por domicílio tem caído. "Há 10 anos a média de moradores da família era de 3.9 e hoje está em 3.3 moradores por domicilio, o que mostra que criamos muitos domicílios, mas a família diminuiu, pois os jovens passam a morar sozinhos". A estimativa do IBGE é que, daqui a 50 anos, a população pare de crescer e inicie um ciclo de diminuição, pois as taxas de natalidade e fecundidade têm diminuído ao longo dos anos. "Hoje, com a liberdade da mulher, ela pensa primeiro nos estudos e depois na carreira profissional. Montar uma família já vem em terceiro plano", justifica. O Terceiro Setor O aumento da vulnerabilidade social e o crescimento do contingente da população em situação de risco deram origem a um terceiro setor de atuação, teoricamente sem vínculos diretos com o primeiro (Público, o Estado) e o segundo (Privado, o Mercado). Para o ativista social Jotta Ribeiro, que desenvolve um projeto junto à crianças e adolescentes de bairros carentes da região, a atual situação de fragilidade social de áreas periféricas e as projeções para o futuro, baseadas nas estatísticas que apontam o aumento do número de habitantes, pede um novo comportamento do governo e da sociedade. Entre os principais pontos que observa nas comunidades em que atua, ele destaca a importância do investimento em campanhas de conscientização e prevenção de gravidez na adolescência. "Segundo o site Liga das Mulheres, a cada 18 minutos uma menina de 10 a 14 anos dá à luz uma criança. Entre os 10 e 20 anos o número é ainda maior, chegando a um nascimento por minuto. O Estado de São Paulo tem o menor índice de gravidez na adolescência, mas o número é de uma a cada 5 minutos, de 10 a 20 anos. É importante lembrar que a gravidez na adolescência se repete porque 40% das adolescentes volta há engravidar dois anos depois". As informações são da Casa do Adolescente, mantida pela Secretaria de Estado da Saúde. Jotta é o idealizador e coordenador da ONG Arte na Lata, que procura trazer, por meio da música, reciclagem e cultura, educação e valores aos jovens da região e seus familiares. "Nosso trabalho é ocupar a mente do adolescente para que ele não perca seu futuro com drogas, prostituição, criminalidade, gravidez na adolescência. Mas, se a cada dia for crescendo a demanda de jovens à nossa procura, não teremos condições de atender à todos. Temos nossas deficiências, como a falta de apoio e incentivo do Governo. E criança sempre vai onde tem mais acesso, pode ser para ONG ou para às ruas", desabafa. Sobre o número de habitantes estimado pela ONU, ele conclui: "não acho que seja motivo de comemoração e sim de preocupação para os anos subseqüentes. Muitas coisas podem aumentar, como doenças, falta de estrutura familiar e desemprego. Até 2050, conforme a ONU prevê, seremos 9,3 bilhões de pessoas", alerta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário